Psicoterapia e obesidade
Sobre alimentação, obesidade e emagrecimento
Este texto é voltado para as pessoas que querem perder peso, e para as pessoas que conhecem alguém que quer perder peso.
Se você sair na rua perguntando para as pessoas quantos quilos querem perder, acredito que uma boa parte terá uma resposta, penso que talvez uma parte menor das pessoas esteja satisfeita com o próprio peso.
Comida é um assunto que se refere ao corpo ou à mente?
Comer está basicamente relacionado à manutenção da vida, da saúde. Mas muitas vezes comemos além do necessário, compulsivamente, muitas vezes até nos prejudicamos com a obesidade.
Fatores psicológicos podem alterar o relacionamento com a alimentação: A ansiedade, culpa ou qualquer alteração emocional pode interferir no relacionamento com a comida.
O inverso também pode ser verdadeiro. Quando o corpo não está bem o lado psicológico também pode sofrer, se você se alimenta mal, de forma errada, você pode debilitar seu organismo, ter problemas com o colesterol, diabetes, obesidade, etc.
Obesidade, excesso de peso, sobrepeso são conseqüências de quê?
Pode haver muitas causas. Como você verá adiante, procurei cobrir a maior parte das possibilidades. Por um lado você vai descobrir que pode estar comendo mais do que o necessário porque a evolução lhe dotou de sistemas para que a comida fosse algo tão interessante a ponto de te motivar para comer muito. Isso porque na era primitiva a comida não estava tão disponível como hoje, não era só esticar o braço na geladeira ou atravessar a rua para alcançar o mercado ou a lanchonete. Na era primitiva o esforço era grande, mas valia a pena pois sem comida a pessoa morria. O grande problema é que hoje ninguém precisa de tanto esforço assim para conseguir comida, e o perigo de não ter comida suficiente também não existe mais como existia para o homem primitivo, mas o apetite, a voracidade por alimentos continua a mesma porque nosso corpo ainda não se adaptou a essa nova realidade, então você acaba comendo muito mais do que precisa e, engorda.
Emagrecer
Pode ser interessante identificar o porquê de você querer perder peso. Você quer ser aceito pelos outros? Não ser reprovado no exame médico da empresa? Deseja conseguir uma namorada?
Sem o motivo certo pode-se prejudicar o processo de emagrecimento. Eu acredito que arrumar namorado, fazer bonito na balada, ser aceito no trabalho, agradar o pai podem não ser bons motivos para emagrecer. Considero interessante que o foco esteja em você mesmo e não nos outros
Avalie seu comprometimento à meta de emagrecer.
Você é do tipo que só se entrega a alguma tarefa se ela for fácil, se não der muito trabalho? Ou você consegue se esforçar por alguma coisa que sabe que vale a pena? Você sabe avaliar quando alguma coisa vale o seu esforço? Sabe reconhecer agora o quanto você vai ganhar, e sabe usar isso para te motivar a suar um pouco a camisa?
Você quer emagrecer ou espera que outro o emagreça?
Muitas pessoas consideram muito mais confortável ingerir um remédio para emagrecer ou fazer uma cirurgia. Essa é a postura dos que esperam ser “emagrecidos” por fatores externos. Pode até dar resultado, mas não vai se manter por muito tempo, e a conquista não é sua, então não está nas suas mãos manter o ganho, ou seja você pode voltar a engordar sem mesmo entender o porque. Na realidade com este modo de funcionar você está entregando o seu controle para longe de você, para os outros. Todo mundo que emagreceu assim já sabe no que deu. Dali a pouco tá de novo na mesma, ou até pior.
Ganho secundário
Será que tem alguma vantagem em permanecer acima do peso? Parece uma pergunta estapafúrdia, não? Mas não é não. Muitas vezes inconscientemente tem algo de bom em ser gordo, como por exemplo o papel de vítima, as outras pessoas ficam dó de você, e no fundo você gosta disso. Será que a sensação de que tem alguém “cuidando de você” dando dicas, fazendo comidas especiais para você, e assim demonstram o quanto você é importante, e isso vale tão a pena que te impede de emagrecer. Ou será que ser gordo não está justificando outras dificuldades, como por exemplo a dificuldade em paquerar, assim você usa a desculpa da gordura para não “precisar” de paquerar, enfim, é um ótimo pretexto para que ninguém se interesse por você. Ou a comida pode estar servindo como o único agrado que você está conseguindo proporcionar a você mesmo. Sendo assim, ta triste, come, ta nervoso, come, levou bronca do chefe, come, e aí você pode não querer abrir mão deste agrado.
A comida alivia a sua ansiedade?
Ingerir alimentos pode significar, inconscientemente, controle. O ser humano pode necessitar de sentir que está no controle. Quando está inseguro, fica ansioso e cai na comilança como válvula de escape. A sensação de controle te dá tranqüilidade. Quando ansioso a gente procura alguma coisa para confortar, e nada melhor do que a sensação de estar se abastecendo, de estar colocando algo saboroso na boca, está se agradando e... controlando a situação.
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Avalie sua auto aceitação.
Antes de começar a emagrecer é importante que você se aceite como está hoje, acima do peso mesmo. Porque? Porque é impossível mudar uma coisa que você nem aceita que existe. Enquanto houver negação do problema não vamos conseguir olhar o suficiente para ele e nem vamos conseguir fazer alguma coisa para eliminar esse problema. Mas vejam bem, aceitar é diferente de gostar ou concordar, aceitar é parar de brigar com a gordura. É reconhecer que ela existe e você não vai brigar mais com ela, você vai fazer coisas boas para sua saúde, a conseqüência vai ser se despedir da gordura.
Entender porque deixar de comer não emagrece.
O corpo tem um sistema de alerta contra os perigos. Quando a pessoa deixa de ingerir comida o seu cérebro entende como “dificuldades em obter alimentos” e para sua auto preservação passa a reduzir o metabolismo como uma forma de economizar as energias, e por isso não queima de forma eficiente as gorduras excedentes. Ou seja você não emagrece ficando sem comer. E tem também outro fator, quando você fica sem comer por várias horas, a compensação desse período vai além do proporcional à necessidade do alimento. É como se o seu cérebro recebesse a seguinte mensagem “A coisa está feia lá fora, quando aparecer comida, coma o máximo que puder, porque não se sabe quando vai ter comida de novo”, e aí você come muito além do necessário. Mas a ingestão de comida em grande quantidade não é tão eficiente em termos nutricionais, pois seu organismo, quando sobrecarregado de comida, não consegue sintetizar os nutrientes de forma eficiente. Ou seja, você desperdiça o valor nutritivo da refeição, e só acumula gordura.
Porque o paladar é algo tão agradável.
O homem primitivo precisou do paladar mais sensível para identificar os alimentos que não são bons como os venenosos, os estragados, etc, como também para ingerir fontes mais ricas de caloria. Num período onde conseguir comida era algo muito trabalhoso e corria-se o risco de ficar vários dias sem comida, ter alimentos ricos em energia era fundamental. Por isso não é coincidência que os alimentos que mais atraem ao paladar são os doces e os gordurosos, ou seja os extremamente calóricos. Talvez daí venha a frase “tudo o que é bom engorda”. Ou seja nosso corpo ainda está adaptado a outra era, ainda não nos adaptamos a esta fartura e facilidade de acesso a comida, o resultado disso é gordura.
Porque o mais gostoso nem sempre é o mais saudável.
A industria moderna se aproveita desse nosso paladar ávido por sabores e incrementa suas vendas intensificando o sabor dos alimentos com temperos extras e químicas específicas. Sem falar do excesso de gordura nas frituras e açúcar nos doces, que claro atraem ao paladar mas estão além das nossas necessidades energéticas. Colocando muito sabor em alimentos pobres em nutrientes, e conseqüentemente mais baratos, a industria consegue vender, e lucrar, colocando dentro da sua casa alimentos que são totalmente inúteis. Já ouviram a frase “é impossível come um só”, é claro que é impossível, colocaram aquela química que desperta seu cérebro a comer muito mais além do necessário, e lá vai você dando lucro para industria do fast food.
Porque comemos além do necessário.
Nossos corpos são regulados por um “ponto de ajuste” que te ajuda comer menos quando a comida escasseia, pois você sente menos fome. Mas vai ficar mais esfomeado quando tem abundância de comida. Isto é uma forma do corpo estocar calorias para o futuro, e este estoque é feito em forma de gordura. Durante a era primitiva havia muitos períodos de escassez, a refeição seguinte dependia de uma caçada e não de uma corrida a geladeira. Esse sistema de regulagem permitia que o indivíduo fizesse depósitos nos momentos de abundância para que pudessem ser usados quando faltasse comida. Hoje como o acesso a comida é muito fácil, sempre temos um estoque em casa, se estamos na rua há uma lanchonete ou um mercado em cada esquina. Os sinais de ajuste não se adaptaram a essa nova realidade e geram um grande problema, o consumo desenfreado, o excesso de peso, os problemas de saúde relacionados à obesidade.
Porque temos comida predileta e desejo por alimentos específicos.
Seu corpo está provido de um sistema de alarme ao alimento que era familiar, o que já é conhecido e sabe-se que é bom. Isto também é uma herança de nosso processo evolutivo. O homem primitivo tinha muita dificuldade em identificar qual alimento era saboroso ou saudável, assim seria muito importante repetir aquele que já foi provado e aprovado. A procura por esse alimento, já testado e considerado bom, surge na forma de desejo por alimentos específicos.
Conscientize-se do quanto e como você está comendo hoje em dia.
O processo de mudança pode ser facilitado quando se está consciente do comportamento atual.
Fator Cognitivo 1: Pensamentos automáticos que te incentiva ou autorizam a comer além do necessário.
Todo comportamento pode ser motivado por um pensamento. Você tem atitudes que sua "cabeça" o levou a ter. Mesmo que estes pensamentos não sejam conscientes, eles podem ser automáticos, ou seja você não se deu conta deles. Por exemplo, porque você lava a maça toda vez que vai come-la? Porque passa pela sua mente um pensamento automático, baseado em um aprendizado anterior, que diz que toda fruta tem que ser lavada. Mesmo que você não perceba que está pensando isso, essa ideia está na sua mente. Isso é pensamento automático. Pensamentos automáticos coordenam todas nossas ações, inclusive a alimentação. Portanto toda vez que você comeu algo, foi sua cabeça que te fez comer aquilo.
Todo alimento que ingerimos além do necessário, ou seja aquele que vai ser armazenado em forma de gordura, foi ingerido porque autorizamos, ou seja passou coisas em nossa cabeça que te permitiram, ou até te impeliram a comer.
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Pensamentos automáticos que impedem o emagrecimento.
Pensamentos disfuncionais como: “Emagrecer me trará prejuízos pq vou ter que comparar outras roupas”, “Tenho roupas tão bonitas que dá dó não poder usa-las mais”, “Ir a um rodízio e comer pouco é desperdício”, “Para que começar regime hoje, começo amanhã”, “Ontem eu achei que queria emagrecer, mas pensando bem não estou tão gordo assim”, “Para que emagrecer se não vou a lugar nenhum?”, “Porções pequenas são coisas de gente pão dura”, “Quem me recebe com pouca comida é porque não gosta de mim”. Tudo isso são pensamentos que boicotam seu regime.
Muitas vezes o hábito de comer demais vem da cultura familiar, como por exemplo a crença de que gordura significa saúde, ou a crença de se não come é porque não está feliz, a crença de que gordo é bonito, gordura significa fartura, sucesso na vida, etc. Mudar estas crenças é algo que parece fácil num primeiro momento, mas tem que arrancar todas as raízes, senão nada muda.
O que os hábitos, a rotina do dia a dia, tem a ver com emagrecer?
Comer é um habito, e hábitos podem ser mudados. Mudar hábitos de forma geral, todos, mesmo os não relacionados à comida desenvolvem flexibilidade mental e desconecta comida de prazer, de passatempo, de atividade social, etc. Quando você se torna uma pessoa mais flexível você se permite mudar até seu hábito alimentar.
Comer é vicio?
Como todos os vícios comer pode oferecer satisfação em curto prazo e dor e arrependimento a longo prazo. O que define um vicio é: A satisfação provocada pelo agente viciante, a necessidade de doses cada vez mais fortes para se obter o mesmo efeito e síndrome de abstinência quando se retira este agente. Sendo assim podemos considerar vicio tanto o cigarro, a bebida, a droga, etc, como o comer compulsivo.
Referencia:
Pense Magro. Judith S. Beck